17 Os próximos passos de Marina Larroudé

Os próximos passos de Marina Larroudé

Moda

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A brasileira Marina Larroudé investiu todo o conhecimento adquirido no mercado editorial de moda para gerir a marca própria de sapatos, lançada em 2020. Com fábrica estruturada e estratégia traçada, ela prepara a empresa para dar um salto no mercado mundial de moda. Já começou: no início de novembro, lançou com a norte-americana Altuzarra uma collab sexy e fácil de usar – e que promete ser sucesso instantâneo.

“Entendi que você tem bom gosto, mas e daí? O que você realmente sabe fazer?”, perguntaram a Marina Larroudé, no começo de sua carreira – um lembrete marcante do caminho que ela tinha pela frente. Para Marina, que criou a marca de sapatos Larroudé em 2020 junto com o marido, o financista Ricardo Larroudé, a jornada foi tão importante quanto o destino. Ela tem bom gosto, indiscutivelmente, mas foi sua ética de trabalho incansável e a forma como construiu a respeitada carreira que cimentaram sua reputação na indústria da moda. No longo tempo em que foi editora no site Style.com e na revista Teen Vogue, Marina aproveitou a experiência para moldar a maneira como cria conteúdo. Desde apresentar produtos até interpretar tendências, sua visão singular tornou-se uma parte crucial de tudo o que ela tocava.

 

Na moda, não era necessariamente o nível elevado de gosto que fazia com que se destacasse, mas a sua boa natureza, que fazia dela uma líder com a qual todos queriam trabalhar. Foi somente quando se viu como diretora de moda na renomada loja Barneys que ela compreendeu plenamente a perspectiva única que poderia oferecer como profissional. Ao trazer o olhar editorial para o lado das vendas, conseguiu entender como posicionar uma marca com o resultado final em mente. Ali, também se deu conta de que possuía uma perspectiva única – e que isso a tornava distintivamente qualificada para lançar a sua própria marca.

 

Hoje, a Larroudé está em ascensão meteórica para se tornar uma marca global de calçados. Feita no sul do Brasil, em uma fábrica que o casal construiu do zero, a Larroudé está de olho tanto no crescimento quanto na integração vertical. E é a própria ascensão de Marina na indústria da moda que continua a informar o sucesso da marca. Os insiders do setor de negócios se sentem atraídos por tudo o que ela faz, graças à reputação que construiu, e sabem que o produto é impecável por causa do histórico que cultivou no decorrer dos anos. Enquanto a marca se prepara para a movimentada temporada de vendas de fim de ano, conversei com Marina para discutir os caminhos que ela percorreu, o caminho que está trilhando, e o que está por vir.

  • Marina Larroudé calça o Mini Elle pump, um dos muitos modelos de sapatos da marca produzidos na fábrica montada pelo casal no Rio Grande do Sul.

    Marina Larroudé calça o Mini Elle pump, um dos muitos modelos de sapatos da marca produzidos na fábrica montada pelo casal no Rio Grande do Sul. Marina Larroudé calça o Mini Elle pump, um dos muitos modelos de sapatos da marca produzidos na fábrica montada pelo casal no Rio Grande do Sul.

Foto: Pedro Arieta

Houve um momento em que você soube que queria trabalhar na moda?

Eu adorava revistas quando era criança. Costumava ir às bancas de jornal com meu pai para pegar a revista Capricho desde os 9 ou 10 anos – eu esperava ansiosamente por aquilo todo mês. Mas, para mim, o momento decisivo foi quando consegui meu primeiro estágio com [o publisher da Numéro Brasil] Giovanni Frasson, ainda no meu primeiro ano de faculdade. A partir dali, fiquei viciada. Nunca sequer considerei outra coisa, porque, para mim, aquilo era tudo. Eu estava determinada a fazer acontecer.

 

Qual foi o melhor conselho profissional que você já recebeu?

No início, fiz uma entrevista na Dior em Nova York para um cargo de nível inicial, não lembro qual, mas lembro que o homem que me entrevistou disse: “Ok, entendi que você tem bom gosto, mas e daí? O que você realmente sabe fazer?”. Aquilo foi um verdadeiro despertar para mim. Ingênua e jovem, eu simplesmente presumia que ter bom gosto e determinação eram o suficiente para entrar no ramo. Não apenas estava errada, como também não consegui o emprego. A partir daquele dia, percebi que precisava ser capaz de mostrar e articular o que eu poderia oferecer – me especializar em algo que me destacasse. Quando chegou a hora de começar a contratar para a Larroudé, voltei àquele dia e me baseei no que o entrevistador da Dior havia dito. Eu não contrato alguém apenas por ter bom gosto. Na verdade, se você se vestir de forma extremamente sofisticada para uma entrevista, isso é um “não”, já de cara. Fanáticos por moda têm uma maneira muito diferente de se vestir em comparação com os clientes de moda, e consigo perceber a diferença a quilômetros de distância.

 

Qual foi a sua memória de moda favorita até hoje?

Meu primeiro desfile do Marc Jacobs em Nova York. Para conseguir um convite para um desfile dele, você tinha que ser um editor sênior, nunca convidavam jovens editores. Quando chegou a minha vez de receber um convite, foi um grande acontecimento para mim. Minhas expectativas estavam altas, mas o desfile superou minha imaginação. Foi um daqueles momentos em que parece que você está sonhando.

 

Como você descreveria as diferenças entre trabalhar em na imprensa e trabalhar em uma marca?

Quando você trabalha na imprensa, seu trabalho é mostrar as tendências da moda e as notícias da moda de uma maneira “editorial”, apresentando essa informação ao leitor da forma mais criativa. Eu sempre penso que é aqui que a fantasia e a magia entram em cena. Agora, trabalhando do lado da marca, ainda posso ser incrivelmente criativa com minhas campanhas e sessões de fotos e imaginar um mundo de sonhos para o produto. Mas, no fim das contas, o maior diferencial é que o sucesso de uma marca é baseado em vendas. Portanto, criar uma marca que tenha uma mistura de peças de moda e comerciais é uma arte – e sempre foi nosso objetivo com a Larroudé. Quero vestir cada vez mais mulheres, com produtos que não sejam apenas fantasia, mas que também tenham uma função em sua vida. Esse é o desafio interminável, mas é também o que acho mais empolgante no que faço.

 

Como a sua experiência editorial influenciou o que você criou com a Larroudé?

Ela moldou toda a minha carreira até o momento, e trabalhar na Larroudé não é exceção. Sou muito grata por essa experiência de décadas. Aqui, gosto de dizer que somos uma máquina de conteúdo. Eu me orgulho ao dizer que dedicamos recursos consideráveis para criar conteúdo a fim de apoiar a marca em todos os níveis, como para o site, posts no blog, anúncios digitais, vídeos e o Larroudé Journal, que criamos e lançamos no outono passado em conjunto com a nova coleção. Sem dúvida, se eu não tivesse tanta experiência na criação de conteúdo como tinha antes de lançar a Larroudé, teria sido incrivelmente difícil criar essa estrutura. Quanto à posição da marca, ficou muito claro, desde o início, que eu queria oferecer uma revista cujas imagens tivessem um apelo de moda, e não apenas mostrar a mulher e o sapato, mas também as emoções e a criatividade por trás de cada produto e foto. Isso é uma das coisas que nos diferencia em meio a tantas marcas.

 

Quais outras marcas (do passado ou do presente) inspiram você e o que está construindo na Larroudé?

Muitas marcas de venda direta ao consumidor me inspiram na maneira como abordam os clientes e o crescimento. Prada, por sua longevidade e como exemplo de construção de sucesso em torno da integração vertical; Supreme, por sua estrutura de lançamento; e Benetton, por seu marketing único. Também sempre admiro Oscar de la Renta e Carolina Herrera por terem criado marcas americanas fortes com herança latina.

 

Qual experiência de moda foi a mais fundamental para você?

Meu tempo na Barneys foi fundamental. Foi quando as minhas experiências editoriais e de comércio se fundiram. Foi lá que pude ver a diferença entre o que funciona no comércio e o que funciona na capa de uma revista. Esses anos na Barneys foram como uma espécie de escola de negócios para mim. Aprendi muito sobre o negócio da moda na América. 

  • Bico bem fino, revestido de tecido, com laço feito à mão: o Mini Elle pump é “uma ode aos vintage slippers”.

    Bico bem fino, revestido de tecido, com laço feito à mão: o Mini Elle pump é “uma ode aos vintage slippers”. Bico bem fino, revestido de tecido, com laço feito à mão: o Mini Elle pump é “uma ode aos vintage slippers”.

Foto: Pedro Arieta

No mundo da moda, quem você admira mais?

Bernard Arnault, por criar e manter um portfólio das melhores marcas do mundo na LVMH, e Tamara Mellon, pelo que criou com a Jimmy Choo.

 

O que você espera realizar com a Larroudé?

Meu objetivo é vestir milhões de mulheres e oferecer peças de design de alta qualidade a um grande público global. Quero oferecer às mulheres um produto tão excelente quanto o que encontrariam em uma marca “de luxo”, mas a um preço que elas possam realmente pagar.

 

Onde você vê a marca daqui cinco anos?

Vejo a expansão da marca para outras categorias, como bolsas, joias e outros produtos de lifestyle. Espero abrir lojas nos EUA, Europa e no meu Brasil natal – aliás, queremos lançar um site no Brasil muito em breve! Nosso objetivo é que a Larroudé seja um nome conhecido e uma marca global bem estabelecida vendendo 1 milhão de pares de sapatos por ano.

 

Onde você se vê daqui a cinco anos?

Espero continuar trabalhando tão duro quanto faço hoje. Tenho vários objetivos profissionais que quero alcançar, que estão alinhados com meus objetivos de onde quero que a marca esteja daqui a cinco anos. Também quero dedicar tempo a aconselhar mulheres sobre suas carreiras e orientar jovens profissionais. Também espero passar muitos fins de semana na natureza, onde sempre consigo acessar minha criatividade e meu pensamento crítico da melhor maneira.

 

Você acha que ser mulher impactou sua experiência na indústria?

Meus anos no mercado editorial foram muito especiais. Não percebi o machismo até começar a trabalhar no comércio. Lá, passei por tantas coisas desagradáveis. Acredito que a cultura corporativa vem de cima para baixo e, felizmente, somos nós que estabelecemos as regras em nossa empresa e oferecemos direitos e oportunidades iguais para todos.

 

O quão importante foi a comunidade na construção da marca?

“You.Us.We.All.” [“Você.Nós.Todos.”] Isso faz parte da ética de marca da Larroudé e é incrivelmente importante para quem somos e o que estamos tentando criar. A comunidade de moda em que cresci profissionalmente deu um grande apoio à marca desde o início, o que fez uma grande diferença para expormos e movimentarmos a Larroudé, começando do zero – foram eles que nos ajudaram divulgar a marca nas redes sociais de maneira tão eficaz. Acredito, sinceramente, que não estaríamos aqui hoje se não fosse por eles.

 

O quão importante é o Brasil na história da Larroudé?

A alegria e a natureza colorida da marca são um reflexo direto das minhas raízes brasileiras. Mas o que mais me dá orgulho é a qualidade da mão de obra local que construímos lá. E do amor e cuidado que nossos mais de 90 funcionários têm demonstrado em sua dedicação à marca – são eles que tornam tudo isso possível! Construímos nossa própria fábrica no Brasil e conseguimos criar produtos com a mesma qualidade de qualquer fábrica na Itália, trabalhando com os melhores artesãos do país. O sul do Brasil é um lugar tão único e muitos de nossos funcionários lá são jovens profissionais ansiosos para trabalhar para uma marca em crescimento como a nossa. Suas habilidades profissionais são admiráveis, e muitos deles falam inglês, o que nos permite trabalhar perfeitamente com eles de nossa sede em Nova York. Meu marido, Ricardo, tem se concentrado em transformar a Larroudé em uma empresa multinacional consolidada, com escritórios em Nova York e São Paulo, e nossa fábrica em Sapiranga, no Rio Grande do Sul. Ele viaja incansavelmente ao Brasil, todo mês, para ajudar a criar uma estrutura coesa entre as equipes brasileira e americana. Ambos acreditamos fortemente em criar uma empresa com coração e alma, e a Larroudé tem isso em abundância.

 

Existe diferença na forma como você apresenta a marca para um público americano em comparação com um público brasileiro?

Embora a marca tenha sido lançada nos EUA, vemos ela como uma marca global que fabrica no Brasil, levando em consideração os altos padrões de design do cliente americano. Até agora, nosso foco tem sido principalmente no mercado americano, e estamos apenas começando a explorar a Europa. Embora a marca ainda não seja tão conhecida no Brasil, certamente faz parte de nosso plano de longo prazo. Mas, por enquanto, nosso foco continua sendo construir uma grande marca americana.

 

Qual é o seu foco ao buscar criar uma marca global?

O foco está sempre na mulher – quem ela é, e para onde está indo? Ela é bem-informada, obcecada por moda e valoriza a qualidade acima de tudo. Isso é algo que acredito que todas as mulheres tenham em comum. Mas o que diferencia cada mercado é o produto, com algumas preferências variadas quando se trata de detalhes de design – clássico, festivo, adornos, coisas assim. Estamos aprendendo com nossa cliente conforme avançamos, e nos adaptando a essas nuances, implementando as mudanças necessárias para oferecer àquela mulher o que ela deseja.

  • A letra L com o acento agudo que aparece no fim do sobrenome Larroudé se transformou no logo que identifica de longe um par de sapatos da marca.

    A letra L com o acento agudo que aparece no fim do sobrenome Larroudé se transformou no logo que identifica de longe um par de sapatos da marca. A letra L com o acento agudo que aparece no fim do sobrenome Larroudé se transformou no logo que identifica de longe um par de sapatos da marca.

Foto: Pedro Arieta