Assim como o mar, o mercado da moda tem altos e baixos, tal e qual as ondas e as marés. Para se sair bem, é preciso “ler” o momento: surfar as boas ondas e superar os desafios no mar revolto. A metáfora é usada por Gustavo e Rafael Kemp, irmãos gêmeos que, além de surfistas, hoje estão à frente dos negócios da Nannacay, marca criada pela mãe, Marcia Kemp, em 2015, e que passa por uma reestruturação neste início de 2024, com a expansão da linha de acessórios, novas collabs e estreia no segmento de roupas.
A história da Nannacay começa com uma viagem de Marcia à Tanzânia, onde conheceu o trabalho manual das comunidades locais e sua maneira de manter viva as técnicas ancestrais de tramar fibras naturais. Marcia teve muita vontade de mostrar o que havia descoberto a outras pessoas. A partir dali, a empresária foi em busca de outros povos, com outras culturas e conhecimentos artesanais, e montou uma rede de produção em diferentes países. Os mais de 350 artesãos do Equador, do Peru e do Brasil passaram a tramar as bolsas da marca, que são do tipo que provocam desejo de moda imediato e, ao mesmo tempo, manifestam a pluralidade de culturas. A empresa devolve o que recebe capacitando a mão de obra, remunerando de forma justa e convidando os artesãos a assinarem a etiqueta das peças que produzem.
Foto: Thiago Deaudt Marciel
A rede de artesãos vai de mulheres em situação de vulnerabilidade a detentos do sistema prisional peruano. Além do olhar para a questão social, a empresa traz atenção à sustentabilidade, sempre procurando usar matérias-primas rastreáveis e certificadas. A aposta na agenda ESG chamou a atenção na premiação, em 2022, da Camera Nazionale della Moda Italiana, em parceria com a McCarthy Foundation e a Ethical Fashion Initiative, da Organização das Nações Unidas. A Nannacay foi finalista na categoria Impacto Social.
Os filhos gêmeos, que cresceram vendo a Nannacay crescer, continuam o trabalho iniciado pela mãe. “Morávamos em uma cobertura em Ipanema que vivia lotada de bolsas. Depois que me formei em economia, viajei o mundo e voltei com gás para reestruturar a marca e dar essa força para a minha mãe”, recorda Rafael, que desde 2019 é responsável pela expansão da etiqueta. Antes dele, o irmão, que já havia trabalhado como consultor para uma empresa de moda, já se responsabilizava por parte dos negócios. “Quando eu entrei, a Nannacay estava em um momento de ebulição, com força total na venda do atacado para fora do Brasil. Percebi que minha mãe precisava muito de ajuda e sangue jovem para estruturar a empresa”, conta Gustavo.
O olhar jovem dos filhos injetou novidades na marca. As peças, que antes eram vendidas apenas para mulheres, passaram a atender também os homens, com chapéus e bolsas para o dia a dia. “Temos muitos amigos que, assim como nós, se amarram nas bolsas da marca. Nossa gama de consumidores é, acima de tudo, consciente – gente que sabe que, além do estilo, o produto tem um impacto positivo no mundo”, explica Gustavo.
Para eles, fazer moda com responsabilidade socioambiental é um princípio inegociável. “Ninguém vai mudar a indústria da noite para o dia, mas tentamos ser o mais cuidadosos possível com a cadeia produtiva”, explica Gustavo. O bordado e o crochê feitos com a palha de buriti, adquirido de fornecedores que são pequenos produtores, aparece nas bolsas e chapéus. E também poderá ser encontrado em vestidos que a Nannacay lança antes das férias de julho, de olho no verão europeu, como adiantou a edição anterior da Numéro Brasil feminina. “São vestidos de crochê com pegada effortless chic.” A coleção vem junto com a reinauguração da loja em São Paulo, no bairro dos Jardins, e também com a collab de chapéus que a marca arma com a NK Store. A ideia é apostar, cada vez mais, em peças que refletem o lifestyle da grife, e que podem ir além de bolsas, chapéus e vestidos. “Queremos expandir o mix de categorias e criar um universo Nannacay. Temos isso bem definido e, com o nosso DNA, vamos chegar lá”, afirma a dupla.
Foto: Divulgação