18 Onde dançam os vinhos

Onde dançam os vinhos

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A invenção do vidro talvez tenha sido um dos fatos mais marcantes e revolucionários no mundo do vinho. Engarrafada, a bebida ganhou mais tempo de vida e pôde viajar mais longe. Isso já faz muito tempo. Mais recente- mente, outro tipo de vidro – o das taças – foi o responsável por uma segunda revolução na maneira de apreciar diferentes rótulos.

Existe uma ciência bastante precisa para lidar com o empirismo que ronda a degustação de um vinho, uma vez que aromas e sabores podem mudar dramaticamente quando colocamos a bebida para “dançar” em diferentes formatos de taças – a saber, “dançar” é girar a bebida na taça, uma das etapas da degustação.

 

Dessa maneira, assim como produtores de vinho ganham fama, produtores de taça também são alçados à celebridade no mercado. O nome mais quente do momento é, sem dúvida nenhuma, o da cristaleria Zalto, localizada na Baixa Áustria, com uma legião de fãs que vão desde meros consumidores até grandes nomes da vitivinicultura mundial.

 

O hype conta, mas existem motivos bastante técnicos para todo o barulho ao redor da marca. Ao contrário de outras cristalerias, a Zalto tem um trabalho 100% manual. Para o head designer Kurt Zalto, da sexta geração da família no comando da empresa, a perfeição no fazer manual é o princípio fundamental da empresa.

 

O resultado são taças muito finas, de leveza impressionante e bojos com ângulos específicos de 24°, 48° e 72°. Kurt Zalto explica que esses são os ângulos de inclinação da Terra, que supostamente criam “paralelos cósmicos” capazes de fazer com que aroma e sabor obtenham melhor performance. Um pouco de técnica e um pouco de misticismo fazem parte do universo do vinho.

 

As taças altas, com formatos diferentes, indicados para diferentes tipos de uva, são criação de uma gigante do mercado: a Riedel. Foi Claus J. Riedel, na década de 1950, quem pesquisou e lançou a primeira coleção do tipo. Além de mudar o mercado, a inovação foi responsável por ensinar o mundo todo a beber de maneira focada, com o objetivo de extrair o melhor de cada estilo de vinho.

 

Ir na contramão das regras também pode ser um caminho para a notoriedade. Caso de Josko Gravner, icônico produtor da região italiana do Friuli, que inovou ao dispensar os pés das taças nos anos 2000. Com o mestre vidreiro Massimo Lunardon, ele criou copos específicos para os seus vinhos. São líquidos que se abrem aos poucos, com certa timidez, e, quando se sentem confortáveis, explodem em complexidade, mas de maneira gentil e generosa – a personalidade da bebida e das taças é um reflexo do próprio Gravner.

 

A inspiração veio de uma viagem à Geórgia, no extremo-leste europeu, onde ele provou o vinho servido em copos de cerâmica – segundo o próprio, uma abordagem mais íntima, humilde e respeitosa em relação à bebida.

 

Mais do que técnica ou o ângulo correto, alta ou baixa, a taça deve ser a extensão da intenção do vinho e de sua presença. Um lugar confortável para embalar sua dança antes de nos tocar os lábios.

  • As taças de vinho da marca austríaca Zalto são de vidro soprado artesanalmente. Feitas individualmente, são peças únicas, literalmente: não possuem juntas nem emendas.

    As taças de vinho da marca austríaca Zalto são de vidro soprado artesanalmente. Feitas individualmente, são peças únicas, literalmente: não possuem juntas nem emendas. As taças de vinho da marca austríaca Zalto são de vidro soprado artesanalmente. Feitas individualmente, são peças únicas, literalmente: não possuem juntas nem emendas.

Foto: Felipe Censi. Tratamento: Diego Gavioli