30 O universo encantado de Harley Vix

O universo encantado de Harley Vix

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Prestes a celebrar 20 anos de atuação no mercado de eventos, o arquiteto e cenógrafo relembra momentos da sua trajetória, comenta sobre intuição em processos criativos e nega ter uma identidade própria – até então.

É fato: certos códigos, de estilo ou de linguagem, definem a identidade de um estilista, designer ou artista. Na moda, na arquitetura e na arte, elementos se unem para compor um DNA – peço licença à ciência para fazer tal analogia. Na indústria criativa, é raro achar alguém que não queira ser reconhecido pela própria identidade. Exceto Harley Vix.

 

"Eu não tenho [uma] identidade", confessa o arquiteto e cenógrafo, em conversa com a Numéro Brasil. Ao considerar seus 20 anos de sucesso no ramo criativo de eventos e decorações país afora, pergunto o porquê da resposta. "Durante muito tempo, eu fiquei frustrado, porque eu não tinha uma identidade. Mas aí eu entendi que eu trabalhava com identidades", explica Harley, enfatizando o termo no plural. "[O projeto] não era meu, era do cliente e para o cliente. Não é sobre a minha identidade, é sobre quem me contrata." 

 

O desprendimento de não ter uma assinatura própria, segundo ele, também é sinônimo de liberdade criativa e ampliação de possibilidades. De casamentos no Uruguai a eventos corporativos em São Paulo, o arquiteto de formação traduz o desejo dos seus clientes a partir de cálculos meticulosos. A matemática, porém, é instintiva. Harley tem que sentir o que melhor se encaixa aqui e ali, por pura intuição e experiência de sobra. Galhos secos no Casarão Higienópolis para um evento da marca Guerlain e toques de brasilidade para outra ocasião com a Dolce & Gabbana no Shopping JK Iguatemi são exemplos. "[Nesses eventos] conseguimos trazer o nosso respiro. Você precisa ter um toque diferente, mostrar que está no Brasil. E isso a gente faz com bagagem", explica. O toque final, após cada montagem, vem da alma. "Eu falo à equipe que são cinco minutos que preciso para receber todas as minhas entidades possíveis e aquilo se transforma".

 

"Não é sobre a minha identidade, é sobre quem me contrata"

 

Nos casamentos grandiosos que produz, Harley atua no mesmo feeling, mas com um pouco mais de pressa. Ele comenta que antes tinha um intervalo de um ano e meio para concretizar um projeto de cenografia para os noivos. Hoje o prazo foi reduzido para, no máximo, cinco meses. "No setor de eventos agora funciona assim. Vejo isso como uma consequência da pandemia. As pessoas antes achavam que tinham tempo, e aí aprenderam que esse tempo não existe mais. Acabou aquela história de vamos esperar, vamos ver se a gente dá certo. Estão curtindo muito mais a vida. É uma loucura, e eu acho incrível."

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Foto: Arquivo pessoal

Apesar da sua energia e do "tesão nessa loucura que é a festa" – tesão e loucura são palavras frequentes no seu vocabulário – é na solitude que Harley cria fôlego, em momentos onde o silêncio é a principal trilha sonora. Do volante do carro à mesa do restaurante, ele encontra liberdade para criar. "É a hora que você está sozinho, com o seu Divino. A coisa mais tranquila da minha vida é chegar em um restaurante e falar: por favor, papel e caneta. Às vezes a comida já chegou, e eu ainda estou desenhando, rabiscando."

 

"A coisa mais tranquila da minha vida é chegar em um restaurante e falar: por favor, papel e caneta"

 

Anfitrião nato que é, Harley me leva pelos cômodos da sua casa, onde está o seu escritório, no sul de Minas Gerais, durante a nossa ligação por vídeo. As paredes verde-floresta na sala de estar se mesclam com as inúmeras (não deu tempo de contar) folhagens que decoram o ambiente. Plantas e flores, para ele, são como oxigênio. "Eu sou cem por cento isso aqui", diz enquanto filma o espaço amplo, aconchegante e cheio de vida. "Tenho planta aqui dentro, tenho planta lá fora. As flores enfeitam demais a vida da gente." Qual seria a espécie de flor ideal para uma festa ou para a casa, portanto? Ele rapidamente responde: "A que está próxima de você. Independentemente de qual seja, a melhor flor é aquela que é acessível. As flores trazem frescor, beleza e elegância."

 

Nos planos para 2024, está encaixar no calendário uma festa para comemorar as duas décadas como profissional de referência em cenografia no Brasil. Entre os sonhos, construir um hotel boutique em Trancoso, e talvez lançar um livro. No futuro, é provável que Harley ainda continue apegado ao argumento de que não tem uma assinatura própria, como um designer de moda teria em uma etiqueta. Entretanto, a sua identidade se aflora na exata combinação de adjetivos que o descrevem: intenso, sonhador, alto-astral e, abre aspas, "um encantador".

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Fotos: Pedro Fonseca

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