26 As joias de Mestre Didi e o sagrado da arte

As joias de Mestre Didi e o sagrado da arte

Joia

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Usando palha, búzios, miçangas e até barro – materiais presentes nos terreiros de candomblé –, o baiano Mestre Didi criava joias preciosas pelas suas origens, emblemas e significados. Um novo livro ajudará a contar essa história.

A joalheria no Brasil já nos ofereceu maravilhas: dos muiraquitãs em pedra e cerâmica pré-cabralinos executados pelos povos originários, até as esplendorosas joias concebidas pelas mãos africanas, antigamente chamadas “joias de crioula”, de modo reducionista. Hoje, inúmeros estudos e pesquisas analisam o poder criativo de homens e mulheres de origem malês, nagô e de outros lugares da África que burilaram o ouro e a prata criando colares, pulseiras, brincos e os famosos balangandãs, fazendo nascer o primeiro núcleo na arte da ourivesaria em nosso país. Considerado por muitos o pai da joia moderna brasileira, Roberto Burle Marx reinventou a joalheria nacional, inserindo seu desenho marcado pelas linhas puras e as gemas com a original lapidação livre.

 

Não foi só Burle Marx. Ao longo dos anos, artistas de todo o mundo criaram joias. O reconhecimento do suporte era tal que a Bienal Internacional de São Paulo dedicou salas exclusivas ao tema durante algumas de suas edições. O artista e colecionador Emanoel Araújo, que em vida foi diretor curador do museu Afro-Brasil, organizou inúmeras exposições individuais e coletivas que trouxeram ao público a arte de Mestre Didi, seu conterrâneo baiano e criador de joias com signos do continente africano.

  • RAFAEL MORAES, autor de novo livro sobre Mestre Didi, ao lado da pesquisadora e curadora de moda HANAYRÁ NEGREIROS.

    RAFAEL MORAES, autor de novo livro sobre Mestre Didi, ao lado da pesquisadora e curadora de moda HANAYRÁ NEGREIROS. RAFAEL MORAES, autor de novo livro sobre Mestre Didi, ao lado da pesquisadora e curadora de moda HANAYRÁ NEGREIROS.

Foto: Tuca Reinés

“Deoscóredes Maximiliano dos Santos, popularmente conhecido como Mestre Didi, foi um valioso expoente da arte brasileira de origem africana, além de um sacerdote de cultos aos deuses e ancestrais negros, filho de Mãe Senhora, uma das ilustríssimas condutoras do Ilê Axé Opô Afonjá, tradicional terreiro de candomblé de Salvador. Ele também era um joalheiro”, corrige a pesquisadora e curadora de moda Hanayrá Negreiros, oferecendo uma outra perspectiva à produção do artista, conhecido por suas esculturas. Junto de outros pesquisadores especializados na diáspora Afro-Brasileira, o autor deste texto vai reunir, em um novo livro com lançamento marcado para o segundo semestre de 2023, na SP-Arte, em São Paulo, ensaios sobre a obra de Mestre Didi. A publicação também conta com imagens de colares que o artista originalmente criou para sua esposa, a antropóloga Juana Elbein dos Santos.

  • MESTRE DIDI, em foto tirada na Bahia, em março de 1986.

    MESTRE DIDI, em foto tirada na Bahia, em março de 1986. MESTRE DIDI, em foto tirada na Bahia, em março de 1986.

Foto: Chantal Regnault/Divulgação

As composições, feitas de palha, búzios, miçangas, barro, tinta e couro, têm resultado invulgar e propõem um abstracionismo misterioso e mágico. “Os búzios, fartos, nos contam sobre destinos, caminhos e riquezas; as peles de animais são sagradas e fundamentais para as cosmologias de terreiros”, aponta Hanayrá. “O delicado manuseio com a palha da costa e a costura das contas de vidro estão presentes nas ricas narrativas e nos fazeres afro- brasileiros”, completa. Detalhe de mestre: as peças do artista são assinadas com um pássaro e as suas iniciais, “DMS”.

  • Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990.

    Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990. Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990.
  • Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990.

    Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990. Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990.
  • Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990.

    Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990. Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990.
  • Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990.

    Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990. Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990.
  • Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990.

    Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990. Couro, palha, búzios e miçangas estão entre os materiais utilizados por MESTRE DIDI entre as décadas de 1980 e 1990.

Fotos: Divulgação

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  • “Os búzios, fartos, nos contam sobre destinos, caminhos e riquezas” analisa HANAYRÁ NEGREIROS. A obra será lançada na SP-Arte.

    “Os búzios, fartos, nos contam sobre destinos, caminhos e riquezas” analisa HANAYRÁ NEGREIROS. A obra será lançada na SP-Arte. “Os búzios, fartos, nos contam sobre destinos, caminhos e riquezas” analisa HANAYRÁ NEGREIROS. A obra será lançada na SP-Arte.

Foto: Tuca Reinés