08 Spotlight: Rodrigo Abreu Teixeira

Spotlight: Rodrigo Abreu Teixeira

Cultura

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Prestes a completar 20 anos à frente da RT Features, Rodrigo Teixeira se define como um eterno apaixonado pelo cinema e pelos filmes que produz.

Se há uma função tão essencial quanto pouco compreendida pelo público de cinema – não só no Brasil, mas no mundo –, é a do produtor. A saber, seu trabalho vai muito além de administrar um projeto: envolve o olhar criativo para encontrar boas histórias, bem como buscar a equipe ideal para contá-las. Nesse sentido, a paixão pelo cinema faz toda a diferença em um mercado ultra competitivo.

 

É o caso de Rodrigo Abreu Teixeira. Em 2024, ele celebra os 20 anos desde que, à frente da produtora RT Features, começou a investir na produção do cinema brasileiro e internacional. “Se estou em casa, vejo um filme toda noite. Faz parte da minha vida. Vejo para me inspirar para algum projeto, para a minha formação”, diz o laureado produtor, que já levou o prêmio de melhor filme da categoria Um Certo Olhar em Cannes e a Caméra D’Or – só para citar alguns. “Como viajo muito, também vejo filmes no avião. Boto um fone de ouvido e me isolo do mundo”, conta ele, apontando que se também se apaixona pelos filmes que faz.

 

Vale explicar que amar os filmes que produz não é regra para todo produtor. No caso de Rodrigo, é: desde “O Casamento de Romeu e Julieta” (2005), e de “O Cheiro do Ralo” (2006), os primeiros projetos da RT, ele se apaixonou muitas vezes, em muitos idiomas e em muitos países. “Quero produzir o que eu gostaria de assistir. Esse é o meu mantra”, continua, explicando que se interessa em entender mais sobre questões que ampliam não só seu olhar, mas o do espectador sobre o mundo.

 

Prova disso é a gama de filmes que Rodrigo já realizou à frente da produtora RT, que incluem grandes sucessos como “Me Chame Pelo Seu nome”, de Luca Guadagnino, “A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz, “Wasp Network”, de Olivier Assayas, “Alemão”, de José Eduardo Belmonte, “TimMaia”,deMauroLima, “Frances Ha”, de Noah Baumbach, e “Ad Astra”, de James Gray.

 

Quando o assunto é a profissão, mais do que criativo, ele se define como um curioso. “Sou criativo para produzir, mas há produtores que são criativos para executar a produção de um filme. É o que faz diferença”, explica. Nos últimos anos, a propósito, ele tem se concentrado em trabalhar duro – longe dos holofotes, mas jamais distante dos sets e das boas histórias. “Foram dois anos de muito trabalho. Claro que faz parte falar para o público, obviamente falar pela indústria. Mas, nestes últimos dois anos, eu trabalhei muito, trabalhei duro para que a gente pudesse ter um lineup forte, em projetos do mesmo padrão que a RT vinha mantendo nos últimos anos”, responde quando questionado sobre o porquê de estar mais distante da mídia desde que conquistou o prêmio máximo no Festival de Cannes de 2019 com “A Vida Invisível”, ou depois de exibir “Wasp Network” em competição no Festival de Veneza do mesmo ano.

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Foto: Debby Gram

Após o mundo enfrentar uma pandemia e o Brasil amargar uma grande crise no cinema – o público pré-pandemia não foi retomado –, só lhe resta ver com otimismo, pelo menos, os projetos que produz. “O ano de 2019 foi muito bom; 2020 foi um ano péssimo para todos e 2021 foi um ano de muito trabalho, de desenvolvimento e reafirmações de parcerias. Em 2022, comecei a filmar muitos projetos”, comenta. Desde então, além de lançar “Armageddon Time” em competição no Festival de Cannes 2022, a RT rodou o novo filme de Marco Dutra, “Enterre seus Mortos”, “Barba Ensopada de Sangue”, de Aly Muritiba, e uma série documental para a Globoplay sobre o jogador Sócrates, dirigida por Walter Salles.

 

Com o diretor de “Central do Brasil”, a RT também realizou, em coprodução com a VideoFilmes, seu novo longa, “Ainda Estou Aqui”, primeiro filme que Salles faz no Brasil desde “Linha de Passe”, de 2007. Para completar, no exterior, acaba de filmar “O’Dessa” na Croácia, dirigido por Geremy Jasper, que com a RT também lançou “Patti Cake$”, em 2017. “Em 2024, teremos muita coisa para apresentar para o mercado e muita coisa para filmar”, adianta.

 

Se por um lado o momento de colher o resultado do trabalho árduo dos últimos anos chega em breve, por outro há uma crise em andamento: a atual greve dos roteiristas e atores norte-americanos. Desde maio, os roteiristas estão parados. Já os atores decidiram paralisar as atividades em julho. Essas paralisações revelam uma crise mais profunda, que é a do modo de produção e “Tem o produtor que é criativo para fazer set, tem o que é criativo para escolher projeto. Eu sou um produtor cinéfilo e curioso.” consumo de cinema e TV no mundo contemporâneo. “Sou membro da WGA (Writers Guild of America, o sindicato dos roteiristas dos EUA). Neste momento, para roteiros nos Estados Unidos, estou em greve como qualquer outro profissional. O mercado tem que mudar porque, do jeito que as coisas estavam sendo conduzidas, o cinema independente não sobrevivia”, analisa.

 

Nessa onda de mudanças, as remunerações também são um ponto-chave. “Elas ficaram muito menores. A gente tem que lutar para fazer volume. Não se consegue correr riscos e ganhar um bônus, por exemplo. Isso porque você nunca vai saber como seu filme vai se sair, o que acontece porque se cede a alguém todos os direitos de tudo o que é realizado nos próximos 100 anos.”

 

Ainda que o Brasil não seja afetado em primeira instância pela greve, as mudanças são globais, e o caminho para que o cinema finalmente recupere de vez seu vigor e seu diálogo com o público é longo, mas possível. No Brasil, isso passa pela questão das cotas de tela, que garantem espaço para as produções nacionais nos cinemas, na TV e no streaming. Ele é totalmente a favor. “Existe preconceito e falta de formação de público no Brasil. A gente não tem como sobreviver se não houver cota de tela para formar público.” Uma coisa é certa: seja qual for o caminho, Rodrigo estará apostando nas histórias pelas quais se apaixona – e quer ver o público se apaixonar.