25 Bosco Sodi e a arte para o desenvolvimento humano

Bosco Sodi e a arte para o desenvolvimento humano

Arte

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Adepto da filosofia japonesa Wabi Sabi, o mexicano Bosco Sodi enxerga na arte uma potência para o desenvolvimento humano

  • Retrato de Bosco Sodi em sua exposição “Alabanzas” na Galería Hilario Galguera, México. © Galería Hilario Galguera.

    Retrato de Bosco Sodi em sua exposição “Alabanzas” na Galería Hilario Galguera, México. © Galería Hilario Galguera. Retrato de Bosco Sodi em sua exposição “Alabanzas” na Galería Hilario Galguera, México. © Galería Hilario Galguera.

Foto: José Rodríguez e Eduardo Rodríguez

Em minha mais recente ida à Cidade do México, visitei um espaço que me deixou emocionada e estimulada – posso dizer até mesmo que fiquei perplexa, mas em um ótimo sentido. Ao saber que eu estava a caminho do México, um amigo – o curador Marcello Dantas – disse que havia um lugar imperdível e recém-inaugurado ao público: a Casa Wabi, idealizada pelo artista Bosco Sodi. Associação sem fins lucrativos, a Fundação Casa Wabi busca fomentar o intercâmbio entre a Arte Contemporânea e as comunidades locais de suas três sedes – uma em Puerto Escondido, no Estado de Oaxaca, também no México, outra em Tóquio, no Japão, e esse recém-inaugurado espaço na Cidade do México.

 

O lugar fica numa área ainda pouco explorada na cidade, composta por diversos galpões e com potencial de ser no futuro algo como o Design District de Miami, bairro revitalizado por meio de espaços culturais, gastronômicos e comerciais. Sempre que lia algo sobre a Casa Wabi, ficava curiosa para viajar até Oaxaca e conferir de perto o templo criado pelo arquiteto japonês Tadao Ando com intuito de ser residência para artistas e que tem como função primordial trabalhar com a comunidade local – na verdade, essa é a única premissa solicitada aos residentes.

 

A entrada tem uma fachada discreta, mas depois de atravessá-la, o visitante se depara com um projeto arquitetônico monumental que contém dois prédios distintos: um que sedia a Casa Wabi, com escritório e espaço expositivo de artistas que já foram residentes ou participaram de projetos da casa, e um outro dedicado à contemplação de toda a trajetória artística de Bosco – uma verdadeira imersão em sua obra - um ambiente sobre tempo, materialidade e concentração.

 

Passada essa experiência, decidimos entrevistar o artista, cuja importância está não apenas em suas esculturas e pinturas de força material extremamente impactante, repletas de cores e texturas, mas também em seu trabalho no fomento à produção de outros artistas e seu propósito de difundir a arte como ferramenta para o desenvolvimento social e humano.

  • Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.

    Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi. Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.

Foto: Sergio López

O que o inspirou a criar a Casa Wabi? Como a paisagem no litoral de Oaxaca conversa e fomenta o intercâmbio entre artistas de diferentes nacionalidades e a comunidade local?

Estou convencido de que quando você passa pelo mundo, deve contribuir com algo e deixar um lugar melhor, e é isso que me inspirou a criar a Casa Wabi. Não apenas isso, mas acho que há uma falta de consciência coletiva na sociedade, e ainda mais no mundo da arte. Quando comecei a me estabelecer como artista, senti que tinha a obrigação de dar algo em troca, e pensei que a melhor ideia era fazê-lo em meu país, o México, em Oaxaca, um lugar que deu tanto a mim e a meus colegas, que também são artistas. Decidi criar a fundação na costa de Oaxaca porque desde muito novo eu costumava ir acampar no litoral de Puerto Escondido, e é um lugar com o qual tenho uma conexão muito especial. A Casa Wabi é um lugar ideal para artistas porque ajuda a contemplação e introspecção. Espero que o espaço na Cidade do México seja um lugar de que todos possam desfrutar, que as comunidades perto deste bairro, que são em sua maior parte de baixa renda, possam aproveitar o espaço. Observar, se conectar e interagir com a arte. Sempre tive certeza de que a arte nos ajuda a compreender o universo, nós mesmos, outros seres humanos e a natureza – ela ajuda a nos conectarmos.

 

“Wabi” deriva de “wabi sabi”, um conceito japonês que se refere a uma estética ideal ou estilo de vida que encontra beleza na imperfeição, impermanência, acaso e profundidade. De alguma maneira seu trabalho e a Casa Wabi também trazem referências do Oriente?

Sim, sou um grande fã do wabi sabi. Acho que estamos aqui apenas por um momento passageiro – a impermanência e mudança constante fazem parte da vida, e são conceitos que temos de compreender e aceitar. Imperfeição, acidente e falta de controle tornam tudo único, e essa é a filosofia tanto da minha obra quanto da Casa Wabi, é a filosofia de ter flexibilidade, adaptabilidade, em que nada é perfeito, mas onde você está sempre tentando melhorar. É por isso que dei esse nome, e tem também muito a ver com minha maneira de encarar a vida.

  • Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.

    Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi. Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.
  • Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.

    Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi. Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.

Fotos: Sergio López. Cortesia Studio Bosco Sodi em Sabino 336, Atlampa, Cidade do México. © Studio Bosco Sodi.

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  • Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.

    Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi. Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.
  • Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.

    Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi. Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.
  • Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.

    Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi. Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.

Fotos: Sergio López. Cortesia Studio Bosco Sodi em Sabino 336, Atlampa, Cidade do México. © Studio Bosco Sodi.

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Para alguém que vive entre o México e os Estados Unidos, como a Casa Wabi reflete a experiência e cultura de ambos os países?

Acredito que a Casa Wabi é um espaço completamente independente - é claro que reflete um pouco da cultura mexicana, mas também tem sua própria essência, com a arquitetura impressionante de Tadao Ando, simples mas que, de alguma maneira, fica melhor com o passar do tempo. Acho que o importante é que ela reflete sua própria personalidade, não há muita influência da minha carreira nos Estados Unidos ou da minha carreira no México – pelo contrário: a fundação se tornou uma entidade por si só, que impactou minha obra e minha vida, e a vida da minha família.

 

Mano Penalva foi convidado a exibir sua produção no espaço. Há planos de convidar outros brasileiros para participarem?

Sim, o Mano foi convidado! É engraçado você ter perguntado: Alberto Ríos está em São Paulo agora, ele foi convidado e está visitando muitos estúdios de artistas brasileiros. Acho que o movimento de artistas no Brasil é bastante interessante, há artistas muito bons em diferentes estágios de carreira. Cada vez que vou ao Brasil me sinto inspirado, é fascinante ver o trabalho que artistas estão fazendo lá. Por outro lado, eu também trabalho lá, a Luciana Brito me representa. Trabalhamos juntos há uns 10 anos, recentemente fiz minha segunda exposição no Brasil e agora estou conversando com Marcello Dantas para fazer uma exposição em São Paulo em breve.

  • Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.

    Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi. Vista da instalação da exposição “De esos polvos, estos lodos” de Alejandro Almanza Pereda na Casa Wabi, Cidade do México. © Fundación Casa Wabi.

Foto: Sergio López. Cortesia Studio Bosco Sodi em Sabino 336, Atlampa, Cidade do México. © Studio Bosco Sodi.