Foto: White Cube (Eva Herzog)
Atualmente, os artistas croatas Bruno Pogacnik Tremow e Ivana Vuksic estão interessados na prática de Augusto Boal, diretor de teatro, dramaturgo e ensaísta brasileiro, cujos textos vêm educando a dupla a respeito dos métodos estéticos do Teatro do Oprimido. Criados por Boal (1931-2009) nos anos 1970, os jogos e técnicas teatrais interativos têm como objetivo principal transformar o espectador em um sujeito atuante, capaz de protagonizar e transformar a ação dramática, e é um pouco nessa chave que a dupla se define. “Nos tornamos um espectador ativo, aquele que muda profundamente a cada exposição”, explicam.
Foto: White Cube (Eva Herzog)
As técnicas da dupla se aproximam de linguagens artísticas diversas, que vão do anime japonês ao cinema iugoslavo, e passam por pinturas da Renascença, da Art Nouveau e do pós-impressionismo
Se, a princípio, o fato de colocarem a si mesmos como espectadores pode causar algum estranhamento, essa sensação se dissolve conforme os dois elaboram os conceitos que os movem. Desde 2014, quando começaram a trabalhar juntos em um estúdio em Nova York, onde vivem atualmente, os dois passaram a conviver com a sensação de que as obras estavam sendo realizadas por uma terceira entidade e, por isso, assumiram o nome artístico TARWUK. Apesar de estarem em dupla, o que querem é explorar os limites da individualidade em um processo que pretende “sondar, inspecionar, dobrar e esticar o ser”, como os próprios justificam. “Entendemos TARWUK como uma condição além ou fora da qual não existimos nem podemos existir. E é através desta condição que hoje conseguimos nos conectar com o nosso trabalho.” Nesse sentido, é curioso que o nome que escolheram para estar no mundo não tenha em si nenhum significado declarado – os títulos das obras, praticamente impronunciáveis, também chamam a atenção. Mais do que qualquer resultado estético, o assunto principal para a dupla é a própria linguagem.
Foto: White Cube (Eva Herzog)
Ao questionar o conhecimento e o significado político das palavras, eles dizem querer denunciar toda e qualquer herança linguística. A despeito desse discurso, suas obras impressionam – e muito – pelo apuro visual. Nelas, há aproximações a diversos movimentos e linguagens artísticas, que vão do anime japonês ao cinema iugoslavo e passam por pinturas da Renascença, da Art Nouveau e do pós-impressionismo. O resultado, por vezes, são figuras lânguidas e espectrais que parecem estar situadas no limiar entre a vida e a morte, algo que é reforçado pela pre- dominância de tons terrosos ou opacos. Dada a biografia dos artistas, que vivenciaram a Guerra da Independência da Croácia (1991-95), é difícil não associar o mundo fragmentado que aparece em suas pinturas e esculturas com o trauma e a violência. Os artistas, no entanto, preferem fugir dessa interpretação. “Nossa prática transcende nossas experiências individuais e nos transcende como indivíduos. Em vez de anexar um marco geográfico, preferimos observar o mundo como o jardim, que é uma epifania do mistério da existência do homem”, resumem. O jardim, para eles, seria a expressão da razão, o momento em que a natureza, domesticada pela intervenção humana, perde sua característica orgânica (e, por vezes, caótica) e dá lugar a uma estrutura controlada e sujeita às noções de beleza. “Há uma certa teatralidade que não existe na natureza em geral; um jardim é essencialmente o palco onde a natureza atua”, concluem Ivana e Bruno.
Foto: White Cube (Eva Herzog)