Falou vinho, pensou no líquido vermelho-rubi dançando dentro da taça? Faz sentido. Dificilmente os brancos vêm à mente, já que ganharam o estigma de bebida para aperitivos, ou para pratos de carne branca, leves e delicados. Também falam por aí que vinhos brancos não envelhecem (gente sem esperança!). Há muito mais para o mundo dos vinhos.
No norte de Portugal, seguindo as águas do Rio Douro rumo à Espanha, existe um lugar cuja vegetação inspirou o nome de uma especialidade da região: os Vinhos Verdes. Por lá, os campos e encostas ficam verdes por quase todo o ano, e o motivo é que essa é uma das zonas com mais oferta hídrica da Europa. Demarcada como “Denominação de Origem" em 1908, é a maior área vitivinícola portuguesa, e uma das maiores da Europa.
Muitos de nós, brasileiros, temos uma memória de vinhos simples, muitas vezes levemente frisantes, e essa memória deve abrigar também alguns dos vinhos brancos mais completos do mundo. A região de Vinhos Verdes é lar de muitas variedades de uvas brancas autóctones, com características singulares entre elas, que formam um mosaico expressivo e complexo, capaz de revelar o quanto os vinhos brancos têm de elegância e profundidade.
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Além do ouro líquido engarrafado, os entusiastas do universo gastronômico encontram na região hotéis de luxo e restaurantes com requinte de produtos e execução, para matar a sede em todos os sentidos.
A viagem de carro de Lisboa até o norte de Portugal tem abundância de belas paisagens e vale cada quilômetro, mas se você pensa em encurtar distâncias, pode pegar um vôo direto da cidade de São Paulo até a cidade do Porto.
Uma vez lá, com GPS a postos, comece pela cidade de Amarante. O Museo Municipal Amadeo de Souza Cardoso abriga obras do autor homônimo, além de artistas locais como António Carneiro, Acácio Lino e Agustina Bessa Luís. Vale um almoço no restaurante Largo do Paço, na belíssima Casa da Calçada, uma enorme propriedade que data do século XVI, e era um dos principais castelos do Conde de Redondo. Dormir em um quarto em meio às vinhas: um sonho que as instalações do Hotel Monverde tornam realidade sob uma atmosfera sofisticada, discreta e lindíssima.
A cerca de 15 minutos da cidade de Amarante está a vila de Telões. Construído em casas rurais restauradas e renovadas em meio às vinhas da Quinta da Lixa, uma propriedade familiar que produz vinhos desde 1986, o hotel foi desenhado pelos arquitetos portugueses Fernando Coelho e Paulo Lobo. Além de toda estrutura de spa e lazer, o hotel conta com um restaurante de assinatura do chef Carlos Silva, além de uma carta de vinhos de respeito, que conta toda a diversidade dos vinhos portugueses com foco, é claro, nos vinhos da região.
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Saindo de Telões rumo ao extremo norte da zona de Melgaço (quase Espanha), uma das visitas que não pode passar batido para aqueles que querem entender sobre o potencial dos vinhos brancos de Vinhos Verdes é a Quinta do Soalheiro. Um dos produtores pioneiros na região e referência no trabalho com a uva Alvarinho, a Soalheiro trabalha uma agricultura limpa e ética, jcom manejo orgânico das vinhas, apoiadas em práticas da agricultura biodinâmica (para as próprias parcelas).
Outro produtor que faz ensaios para conversão do manejo agrícola para orgânico é a Quinta do Ameal. Aqui, a uva principal é a Loureiro, que na região mais costeira de Lima produz brancos aromáticos e versáteis. A Ameal está em uma propriedade histórica cortada por rios e muita mata, e tem como desafio o equilíbrio em suas vinhas para evitar doenças, que por conta da alta umidade se proliferam com maior facilidade. A propriedade também conta com casas deliciosas para hospedagem em meio às vinhas e jardins.
Já a caminho do Porto, na sub-região de Sousa, está a vinícola Sem Igual. Um projeto jovem iniciado pelo casal Leila e João Camizão. As variedades de uva são Arinto e Azal, também com manejo agrícola em transição para orgânico. Todos os vinhos são fermentados de forma espontânea, o que aporta ainda mais camadas e profundidade para os vinhos, que têm um perfil bastante vertical, com uma acidez brilhante e generosa. A propriedade familiar também conta com uma hospedagem charmosa, a Casa da Portela, construção do século 17 que abarca 5 suítes em meio às vinhas.
A diversidade e a sofisticação refletem não somente nos vinhos. Vinhos Verdes exala história e se firma como uma região que mira o futuro, com um olhar cada vez mais voltado para a terra e biodiversidade.
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