Sarah Bernhardt na exposição "Et la Femme Créa la Star"

Cultura 20 June 2023

Beyoncé, Kim Kardashian, Lady Gaga ou Gwyneth Paltrow não inventaram o fenômeno da celebridade, bem antes delas, houve Sarah Bernhardt (1844-1923). Foi a atriz, escultora, cortesã, empresária, mãe solteira, garota propaganda e diva quem sacou que viver no espaço ambíguo do “fale mal, mas fale de mim”, entre fãs e detratores, pode render. E muito.

por Cynthia Garcia .

a/c Antonia Petta .

Para celebrar os cem anos da morte desse símbolo feminino pioneiro, a exposição "Sarah Bernhardt: Et la femme créa la star" pode ser visitada até 27 de agosto no Petit Palais, em Paris, cidade onde nasceu e glorificou seu talento fora da curva. A mostra, a maior até hoje em homenagem à diva, exibe mais de 400 peças entre objetos pessoais, retratos, pinturas, figurinos e esculturas em bronze feitas pela própria Bernhardt. Estão expostos os icônicos cartazes Art Nouveau de Alphonse Mucha divulgando suas peças; o magnífico colar de turquesa que usou em “Cleópatra” (1890); os retratos de Félix Nadar, entre eles, o da atriz em “Pierrot assassin” (1883); e o mais famoso de todos, capturado pelo fotografo Mélandri, cerca 1880, da divina Sarah dormindo no caixão, hábito soturno chocante que rendeu a ela ainda mais páginas nos jornais no mundo todo e sedimentou em definitivo sua fama de excêntrica.

Paul Nadar, Sarah Bernhardt em Pierrot Assassino, 1883, estampa prateada. BNF, Departamento de Impressões e Fotografia Paris, França. © BnF
Anônimo, colar peitoral para Cleópatra 1890. Figurino e acessório, 60 x 43 cm. Biblioteca Nacional da França, departamento das artes cênicas. © BnF
Paul Nadar, Sarah Bernhardt (Macbeth), 1884. Fotografia positiva montada em papelão. Imagem: 30,2x18,2cm. Suporte: 32,9x19cm. BNF, Departamento de Impressões e Fotografia Paris, França. © BnF
Capa usada por Sarah Bernhardt em Theodora Biblioteca Nacional da França, Departamento de Artes do programa. © BnF
Coroa usada por Sarah Bernhardt em Theodora. © Museus de Paris/Palais Galliéra-Museu da Moda de Paris
Mélandri, Sarah Bernhardt dormindo em seu caixão, por volta de 1880. Cidade de Paris / Biblioteca Marguerite Durand. © Cidade de Paris / Biblioteca Marguerite Durand
Colete que pertenceu a Sarah Bernhardt com um colar Medici em arminho, forrado a pele de borrego branca e cetim. Entre 1898 e 1900. Palais Galliera, Museu da Moda da Cidade de Paris. © Museus de Paris/Palais Galliéra-Museu da Moda de Paris
Coroa da Rainha usada por Sarah Bernhardt em “Ruy Blas” (a Rainha) de Victor Hugo. Strass, pérolas artificiais e metal prateado. Diâmetro: 11cm. Altura: 12cm. Comédie Française, Paris, França. © Coleção Comédie-Française
Félix Nadar, Sarah Bernhardt vestida de branco. Por volta de 1864. Impressão de albumina de um negativo de vidro colódio 9" x 7". Com moldura: 43 x 33 cm. BNF, Departamento de Impressões e Fotografia. Paris, França. © BnF
Sarah Bernhardt, Algas, 1900. Escultura, 73,7 x 62,8 x 21,5 cm. Coleção particular. © Galerie Talabardon & Gautier, Paris / Seven Quadrado
Sarah Bernhardt, Algas, 1900. Bronze com pátina de bronze, fundido à mão cera perdida, 13x12x50 cm. Petit Palais, Paris, França. © Museus de Paris - Petit Palais

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O escritor Mark Twain escreveu: “Há cinco tipos de atrizes: más atrizes, atrizes passáveis, boas atrizes, grandes atrizes, e há Sarah Bernhardt”. O dandy Jean Cocteau criou o apelido “monstro sagrado” para essa francesa de origem duvidosa, cultuada por Victor Hugo, Freud, Oscar Wilde e D.H. Lawrence. Do início de carreira na Comédie Française aonde era conhecida aos 20 anos, como “La petite Sarah”, ela se transformou em “La grande Sarah”. Maior fenômeno do teatro de seu tempo, ela encenou mais de 130 papéis e rodou o mundo com sua própria companhia teatral. Só no Rio esteve três vezes em 1886, 1893 e 1905. Louco por ela, nosso Pedro II, sabe-se, não perdeu uma só apresentação e ainda a presenteou com um valioso conjunto de gargantilha e bracelete em diamante, coisa que La Sarah mais adorava depois de animais exóticos, aplausos, sucesso e sexo. Um dos orgulhos do couturier Paul Poiret, ainda desconhecido e trabalhando na Maison Doucet, era alardear que havia sido ele quem havia cortado o figurino masculino que a divina Sarah usou em cena em “L’Aiglon”, peça de Rostand sobre a malfadada sorte do filho mais velho de Napoleão. Até nisso, ela foi pioneira, ao se travestir com roupas de homem em cena em mais de trinta papéis masculinos, entre eles, Hamlet, para horror da burguesia reinante.

Georges Clairin, Sarah Bernhardt como Dona Maria de Neubourg, em Ruy Blas em 1879, na Come- die-francês. 1879. Óleo sobre tela. Sem moldura: 55 x 32 cm, Com moldura: 81 x 58 cm. Comédie Française, Paris, França. © Coleção Comédie-Française
Etienne Carjat, Retrato de Sarah Bernhardt (1844-1923), atriz, sentada abrindo uma caixa, na peça de Ruy Blas em 1872 no teatro francês (Comédie-Française), 1872. Fotografia 22,9 x 29,4 cm. Museu do Carnaval, Paris, França. © Museus de Paris - Museu Carnavalet
Anonymous, Sarah Bernhardt e Georges Clairin. Fotografia, 11 x 16,5 cm. BNF, Departamento de Artes Cênicas, Paris, França. © BNF
Achille Mélandri, escultor de Sarah Bernhardt. Fotografia tipo woodbury. 11,8 x 8, 30 x 24 (Marie Louise). © BnF, Dist. Imagem RMN-Grand Palais / BnF
William Downey, Sra. Sarah Bernhardt por volta de 1900, impressão em prata montada em cartão, Musée d'Orsay Paris. Foto (C) Musée d'Orsay, Dist. RMN-Grand Palais / Alexis Brandt
Georges Clairin, Retrato de Sarah Bernhardt, 1876. Óleo sobre tela, 250x200 cm, Com moldura: 275x227x9 cm. Petit Palais, Paris, França. © Museus de Paris / Petit Palais
Félix Nadar, Sarah Bernhardt em casa, por volta de 1890. Impressão de albumina. Trabalho: 18,8 x 25,7 cm, Montagem: 36,3 x 48,7 cm. Petit Palais, Paris, França. © Museus de Paris / Petit Palais
Otto, Sarah Bernhardt no Bat Hat, 1899 ou 1900, fotografia, BNF, Departamento de Artes Cênicas. © BnF
Georges Clairin, Sarah Bernhardt em seu jardim em Belle-Ile-en-mer 1919, óleo sobre tela, 80 x 155 cm. © Tours Museum of Fine Arts, foto Dominique Couineau
William Downey, Sarah Bernhardt e ela garotinha. Cartão de álbum de recortes. Biblioteca Nacional da França, departamento Centro de Artes Cênicas. © BnF

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Sarah Bernhardt não inventou nenhum modismo ou modinha, muito mais que isso ela criou o comportamento da mulher do século 20. Antecipou a mulher moderna, livre, independente, poderosa, sensual e sexual, despida das culpas impostas pela sufocante sociedade patriarcal, ao associar sucesso, riqueza, talento ao culto da beleza.

Sarah Bernhardt: Et la femme créa la star

Duração 14 de abril a 27 de agosto de 2023

Petit Palais, Paris

petitpalais.paris.fr