Foto: © A Man and a Woman, Claude Lelouch (Cortesia da Chanel)
Quando Chanel encontrou o cinema
“Chanel faz uma mulher parecer uma mulher, Hollywood quer que uma mulher pareça duas”. A frase é da revista The New Yorker e foi escrita na década de 30, a mesma em que Gabrielle Chanel criou seus primeiros figurinos para o cinema. E o que essa frase quer dizer? Em comparação com o guarda-roupa proposto para as atrizes célebres da época, o estilo de Chanel era um tanto minimalista. “Ela reclamava que as atrizes eram enfeitadas demais”, lembra Alexandra Farah no livro “101 Filmes para Quem Ama Moda” (Senai-SP Editora). Ainda sim, Gabrielle assinou figurinos para diversos longametragens. O primeiro deles foi para “Esta Noite ou Nunca”, feito por Mervyn LeRoy (1931), porém o mais emblemático viria no clássico cult “Ano Passado em Marienbad”, de Alain Resnais, (1961).
Anouk Aimée, friend of the house
Foi fora das telas que Gabrielle Chanel mais vestiu atrizes. Entre elas, Anouk Aimée, protagonista de “Um Homem, Uma Mulher” ao lado de Jean-Louis Trintignant. Quando o filme chegou às salas de cinema da França, o ano era 1966 (foi só no ano seguinte que o longa alcançou o resto do mundo, razão pela qual as estatuetas de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro Original no Oscar datam de 1967). A esta altura, Anouk já era o que pode ser considerado hoje uma “friend of the house”: já no ano de 1960, há registros do fotógrafo Giancarlo Botti que mostram suas visitas ao ateliê de Mademoiselle Chanel na Rue Cambon e até mesmo um editorial para a revista Vogue norte-americana em 1963 no qual a atriz francesa veste os conjuntos de tweed da maison – no título, se lê: “Chanel Tailoring: The Youngest Suits in Paris”).
Fotos: Inez & Vinoodh
A moda real à serviço da ficção
Quando Anouk recebeu o convite do diretor Claude Lelouch para estrelar “Um Homem, Uma Mulher”, foi logo avisada de que aquela seria uma produção de baixo orçamento. É essa a razão pela qual colocou sua própria bolsa Chanel – entre outras peças – no figurino que compõe sua personagem no filme. O momento em que se vê isso está na cena em que Anouk surge sentada diante de Trintignant, no restaurante de um hotel em Deauville). Como sugere o enquadramento da cena, a bolsa atua como espécie de personagem, porém uma coadjuvante, sem jamais tirar o foco do espectador do que ocorre no roteiro: um diálogo de tom íntimo, velado pelo contexto das aparências esperadas de um casal em público.
A hommage de Virginie Viard
O mesmo diálogo, o mesmo enquadramento – é clara a intenção da dupla Inez & Vinoodh ao recriar momentos do filme no curta-metragem com Penélope Cruz e Brad Pitt – aquele mesmo que teve seu début instantes antes do primeiro look da coleção de inverno 2025 riscar a passarela, no início neste mês, em Paris. O impulso criativo primordial, no entanto, veio da diretora criativa Virginie Viard, uma apaixonada pela sétima arte e pelo movimento da nouvelle vague, onde enxergou histórias alinhavadas entre a maison e o filme – gravado em Deauville, um lugar incontornável para a trajetória de Gabrielle Chanel. Sobre o deck de madeira construído de modo a remeter ao beira-mar da locação, a estilista mostrou, possivelmente, sua melhor coleção para a maison até hoje, na opinião desta jornalista.
Fotos: Cortesia da Chanel
Star system
Penélope Cruz é amiga da Chanel há bons anos (imagine que o primeiro desfile da grife que a atriz espanhola assistiu foi em 1999) e, apesar de frequentar o mesmo star system de Hollywood que Brad Pitt, teve nesse curta seu primeiro trabalho atuando ao lado do galã. Ao longo dos dois dias de shooting, Penélope teve o prazer de receber no set a visita do diretor do filme original, Claude Lelouch. E ainda pôde dizer a ele que o longa é um de seus filmes favoritos de toda a vida. Fun fact: no roteiro do filme, é o homem quem originalmente verbaliza a famosa pergunta “você tem algum quarto disponível?”. Na homenagem da Chanel, é a mulher – um pequeníssimo plot twist que remonta inevitavelmente à visão de Gabrielle, tanto na moda quanto em sua vida pessoal, ao colocar a mulher à frente. Seja à frente de seu tempo, seja à frente das relações que estabelece com o mundo.
(Re)nasce uma estrela
No entanto, a verdadeira estrela do curta (ao menos, para para os amantes de moda), é outra: a nova versão da mais clássica de todas as clássicas bolsas, a Chanel 2:55 – criada em 1955 e ainda absolutamente relevante. É a bolsa quem protagoniza as imagens de campanha criadas por Inez & Vinoodh que foram lançadas nesta quarta-feira (27.03) globalmente. Conheça aqui a campanha completa e seu behind the scenes.
Foto: Willy Rizzo (Cortesia da Chanel)