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Empresário Fashion: João Camargo

Moda

João Camargo defende que os homens podem se vestir melhor, mesmo quando escolhem usar uma jaqueta de moletom. Enquanto vende ternos sob medida, ele estimula os clientes a levar um estilo de vida mais saudável e ensina sobre elegância e comportamento.

Quando você pensa na moda dos anos 1980, o que vem à mente? Entre ombreiras e camisetas extra large, entre pochetes e mullets, há um lugar reservado ao mundo corporativo raiz, de uma época em que a casual Friday não era uma opção, muito menos o home office e seus zooms, meets e teams em plano americano, enquadramento ideal para esconder a bermuda e o par de chinelos embaixo da mesa. É daquele universo, de homens mais bem cuidados com o guarda-roupa, que João Camargo se lembra quando analisa a linha do tempo da moda masculina, no entra-e-sai de clientes de seu ateliê nos Jardins, a Camargo Alfaiataria.

 

Ele também chama a atenção para as silhuetas, que eram mais magras – tem que malhar, tem que suar, cantava Marcos Valle em 1983. Mas, e hoje, com modalidades tão mais radicais do que o jogging? Há muita gente treinando, é verdade. Em contrapartida, a indústria alimentícia era menos apelativa, e ainda não havia sequestrado o paladar das crianças, condicionando jovens adultos a comerem doces sabor “leite ninho”, e, como resultado, o aumento da obesidade.

 

“Era comum encomendar um terno ou uma camisa sob medida. Quando você se acostuma a ter as medidas tiradas, presta mais atenção ao corpo, se olha mais no espelho”, explica. “Então o prêt-à-porter chegou com força às lojas. O terno de 15 mil reais se tornou um terno de 2 mil reais: bastava fazer a barra e ir embora.” Na visão de Camargo, as roupas com modelagens amplas, que marcaram a época, eram a desculpa perfeita para esconder os quilinhos que passaram a se instalar na população – advogados, executivos e noivos incluídos. Uma imagem mental do “jaquetão do Sarney” apareceu por aí?

 

O estilo profissional de Camargo foi forjado nas duas últimas décadas do século XX, daí as referências oitentistas. Com o pai, ele aprendeu a vender ternos, camisas e gravatas, até sacar que poderia ter o seu próprio negócio. Esse panorama geral é essencial para entender como o alfaiate pensa e trabalha. Evidentemente, ele ama tecidos, aviamentos e roupas. Mas, acima de tudo, gosta de atender pessoas. Tem alma de vendedor; um vendedor mais interessado em criar conexões duradouras com seus clientes do que bater a meta no fim do mês a qualquer custo. Foi seguindo essa ética que ele construiu uma clientela fiel, que lhe acompanhou da Bruno Minelli até as lojas de Ricardo Almeida. Ora, se o cliente vai atrás do atendimento, mais do que da própria etiqueta... Por que não vender peças de sua própria marca? Camargo investiu em cursos de modelagem e afins, e – acelerando a fita VHS desse filme de sucesso (só para ficar no tema 80’s) –, inaugurou seu ateliê em 2005. Os clientes o acompanharam, e famosos, como Henrique Fogaça, Bruno Gagliasso e Luciano Szafir, não demoraram a aparecer.

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Foto: Guto Carneiro

“Não basta comprar terno caro e sob medida para ser elegante. É necessário gostar de si mesmo, ter autoestima.”

O texto poderia terminar aqui, com você pensando que ele é um alfaiate exitoso, que oferece um atendimento muito gentil. Isso não seria um retrato exatamente fiel de João Camargo. Intenso, o paulistano de 48 anos, pai de dois meninos e três meninas, avô de uma neta e casado pela segunda vez, tem fala e olhar firmes, gesticula bastante e gosta de conversar. Espontâneo, inclui um palavrão ou outro no papo. Quando atende um noivo, quer saber tudo do casamento e dos padrinhos; quer imaginar o altar. Com esse estilo particular, Camargo vai além da fita métrica, engatando uma verdadeira consultoria de estilo e, se preciso, de saúde e de bem-estar, naquilo que o cliente pensava ser apenas uma visita de fitting. Ao fim das duas horas de atendimento, os dois são praticamente amigos, afinal, Camargo já indicou ao cliente uma sessão de peeling no dermatologista, convidou a acompanhá-lo a uma aula de jiu-jítsu e ainda encorajou o moço a marcar um endocrinologista, ou até urologista. Nas fases finais desse extreme makeover, Camargo ensina o noivo a posar para a foto, diz o momento certo de desabotoar o paletó e dá dicas de comportamento. “Tem muito noivo que chega querendo ‘só um terno’. Faço questão de mostrar que ele também é o protagonista do casamento; esse papel não é apenas da noiva. E aí, vira um verdadeiro projeto”, conta.

 

As cores da estação, os melhores tecidos para uma cerimônia na praia, a altura ideal da barra e o nó da gravata: Camargo tem todas essas respostas, tanto quanto outros estilistas. O que o distingue verdadeiramente é a habilidade para pegar o cliente pela mão e mostrar-lhe um mundo de possibilidades. “Não basta comprar terno caro e sob medida para ser elegante. É necessário gostar de si mesmo, ter autoestima, permitir-se ser sensual. Não precisa ser um pavão, mas precisa estar bem arrumado”, explica. O resultado, ele garante, é que o cliente muda a atitude, traz o pai e o cunhado para o ateliê e, muitas vezes torna-se, mesmo, um amigo.

 

Enquanto se dedica aos atendimentos do sob medida, a loja física e o e-commerce funcionam com lançamentos de coleções estruturadas, divididas em corporate (pensada para os executivos), casual (de malha e moletom bem cortados) e wedding (casamento). Recentemente, pensando sobre essa questão que lhe é recorrente, sobre o vestir-se bem, o alfaiate lançou-se em um novo projeto: criar uma coleção de gala contemporânea, toda em preto e branco. Entre as propostas, há um paletó de smoking de tecido texturizado, com fitas de cetim enrugadas que criam formas de folhas. Um outro modelo tem bordados localizados de canutilhos pretos sobre o tecido preto, que brilham com suavidade, conforme o homem se movimenta. Outra ideia: o paletó branco vai sobre camisa e calça pretas. E outra: um paletó de tecido paetizado. “O dress code é importante. Se é para ir de gala, vamos de gala. Pode ser que você vista essa roupa uma vez só, mas a foto vai ficar para o resto da vida”, ensina. Vestindo os tuxedos, Mateus Verdelho (ao lado), personifica o cliente Camargo, aberto a novidades. O modelo e produtor de conteúdo é jovem, tatuado, ligado em moda, e adora as modelagens ajustadas que são assinatura do estilista. “Minha roupa favorece o bumbum, mostra o peitoral, valoriza o corpo, deixa um pouco de pé à mostra. Não precisa ser vulgar, mas a verdade é que nós somos o povo mais sensual do mundo”, justifica.

 

Em 2024, Camargo planeja lançar uma coleção para casamentos diurnos logo no primeiro semestre. Para os próximos anos, ele se vê morando fora do país depois dos 55, quando deve desconectar-se da marca aos poucos. Para o futuro, quer que a loja-ateliê, que vende roupas e estilo de vida, ultrapasse o centenário.

  • O tecido paetizado no paletó, a modelagem ajustada, preto total e sapatos sem meia: propostas de Camargo para uma noite de gala.

    O tecido paetizado no paletó, a modelagem ajustada, preto total e sapatos sem meia: propostas de Camargo para uma noite de gala. O tecido paetizado no paletó, a modelagem ajustada, preto total e sapatos sem meia: propostas de Camargo para uma noite de gala.

Foto: Rodolfo Ruben