23 Ricardo Almeida: 40 anos de marca

Ricardo Almeida: 40 anos de marca

Moda

Em 2023, o mestre da alfaiataria no Brasil completa 40 anos de marca. Comemorar com festinha é pouco: vêm aí um novo ateliê, uma nova marca jovem e uma nova linha de jaquetas de couro.

Quanto tempo leva para um empresário de moda brasileiro montar duas fábricas, 20 lojas próprias em diversos Estados, chegar à marca de 800 funcionários, criar desfiles e festas memoráveis, vestir famosos, intelectuais e poderosos e manter irretocável a reputação de alta qualidade e de bom gosto? Pode-se dizer que, com um bom investimento, uma pessoa talentosa até daria conta do desafio. Mas e quanto a manter a estrutura de pé e o motor rodando macio por muitos anos? Hoje, no Brasil, não existe melhor exemplo do que Ricardo Almeida, que em 2023 comemora 40 anos de estrada.

 

O desempenho de Ricardo Almeida - tanto o estilista quanto a empresa - continua altíssimo. Para setembro, ele prepara a inauguração de um espaço de 770 m2 no complexo de luxo Cidade Matarazzo, onde realizará os atendimentos do serviço sob medida e do jeito que gosta: com tempo, espaço e clima intimista para observar o cliente e entender o que ele precisa. E em 2024 tem mais novidade: uma nova linha, especializada em jaquetas de couro com pegada biker. A Numéro bateu um papo com o estilista para falar de passado e futuro.

  • RICARDO ALMEIDA em sua loja no bairro paulistano dos Jardins – há outras 19 espalhadas pelo Brasil.

    RICARDO ALMEIDA em sua loja no bairro paulistano dos Jardins – há outras 19 espalhadas pelo Brasil. RICARDO ALMEIDA em sua loja no bairro paulistano dos Jardins – há outras 19 espalhadas pelo Brasil.

Foto: Igor Kalinouski

Ao começar a marca com apenas quatro funcionários, você imaginava que chegaria até aqui?

Na época, eu tinha outra marca com alguns sócios, mas acabei saindo do negócio. Então, quando comecei, sabia que daria certo, porque já fazia a parte de modelagem e estilo lá e entendia o suficiente do assunto para fazer acontecer. O que eu nunca imaginei é que teria a estrutura que tenho hoje.

 

É melhor ser estilista ou empresário?

Gosto muito mais da criação. Meu pai era um dos donos da Casa Almeida [famosa loja de artigos de cama, mesa e banho que hoje pertence ao grupo Buddemeyer] e trabalhei com ele dos 14 aos 18 anos. Ali, pude aprender todo o operacional - como cuidar da parte fiscal, do estoque, de compras. Hoje, a minha empresa tem um CEO, mas ainda cuido do macro e da estratégia de abertura de lojas, por exemplo. A parte digital é a única que não domino e nem tenho tempo para aprender.

 

O que uma empresa de moda precisa fazer para dar certo?

Acho que a única atividade pior do que a confecção é a profissão de comediante. O cara faz uma piada hoje e não pode repetir a mesma amanhã, senão ninguém ri. Na confecção você tem que matar um leão a cada seis meses. Se errar, pode perder todo o caixa em uma estação. Para fazer uma boa marca, acredito que o ponto principal é cuidar da modelagem, depois de uma boa costura e da criação. Na parte empresarial, primeiro vem o administrativo, depois o marketing. Mas o mais importante mesmo é gostar da área - ou contratar alguém quem goste.

Para setembro, Ricardo Almeida prepara a inauguração de um espaço de 770 m2 no complexo Cidade Matarazzo.

Como você lidou com a empresa durante a pandemia?

Aproveitamos para repensar algumas estratégias. Tinha loja da linha feminina que achei melhor fechar, por exemplo. Formatei uma outra marca, que vem sendo uma oportunidade para embarcar no modo de pensar das novas gerações, como a questão das roupas sem gênero. A RA2, que é minha, dos meus filhos Ricardo e Arthur, e do Gabriel Pascolato, sobrinho da Costanza, deve funcionar como um núcleo da fábrica dedicado a colaborações. O lançamento será na loja do Cidade Matarazzo.

 

Como o homem se veste hoje em dia?

A mulher ajudava a resolver que roupa o homem usaria; ia com ele à loja. Hoje, estão mais informados, até a molecada já sabe o que quer vestir. Outro dia, fui jantar com uma amiga e ela comentou, lamentando, que o filho só queria usar camiseta preta. E eu disse: é isso aí, ele está certo. As pessoas aqui sempre cresceram entendendo de futebol, e agora estão crescendo entendendo de moda. Tem menos preconceito, também. Se quiser ser A, B, C ou D, não importa; o que importa é o caráter. Outra característica é a tribo: tem a dos executivos, do pessoal mais criativo, etc. Já fiz muita roupa para o Eduardo Suplicy, mas também fiz pro Supla.

 

Quantos ternos você tem?

Um monte - que eu não uso. O que mais tenho e gosto são jaquetas de couro, por causa das motos, que são a minha paixão, junto com os carros. Estou com uma nova fábrica pronta para produzir uma linha de jaquetas biker a partir de 2024. Já importei algumas peças de couro e vou começar a fazer peças-piloto ainda este ano. Que roupa tem gostado de usar atualmente? Só uso calça e camiseta preta. É prático e tem a ver com a moto, que uso para vir para a fábrica e ir ao ateliê.

 

Qual foi a sua última aquisição?

Mandei fazer [reformar] um Chevrolet 1939, que acabou de chegar da oficina. É grafite, com painel de metal, direção escamoteável e ganhou até ar-condicionado. Literalmente feito sob medida.