Para celebrar os cem anos da morte desse símbolo feminino pioneiro, a exposição "Sarah Bernhardt: Et la femme créa la star" pode ser visitada até 27 de agosto no Petit Palais, em Paris, cidade onde nasceu e glorificou seu talento fora da curva. A mostra, a maior até hoje em homenagem à diva, exibe mais de 400 peças entre objetos pessoais, retratos, pinturas, figurinos e esculturas em bronze feitas pela própria Bernhardt. Estão expostos os icônicos cartazes Art Nouveau de Alphonse Mucha divulgando suas peças; o magnífico colar de turquesa que usou em “Cleópatra” (1890); os retratos de Félix Nadar, entre eles, o da atriz em “Pierrot assassin” (1883); e o mais famoso de todos, capturado pelo fotografo Mélandri, cerca 1880, da divina Sarah dormindo no caixão, hábito soturno chocante que rendeu a ela ainda mais páginas nos jornais no mundo todo e sedimentou em definitivo sua fama de excêntrica.
O escritor Mark Twain escreveu: “Há cinco tipos de atrizes: más atrizes, atrizes passáveis, boas atrizes, grandes atrizes, e há Sarah Bernhardt”. O dandy Jean Cocteau criou o apelido “monstro sagrado” para essa francesa de origem duvidosa, cultuada por Victor Hugo, Freud, Oscar Wilde e D.H. Lawrence. Do início de carreira na Comédie Française aonde era conhecida aos 20 anos, como “La petite Sarah”, ela se transformou em “La grande Sarah”. Maior fenômeno do teatro de seu tempo, ela encenou mais de 130 papéis e rodou o mundo com sua própria companhia teatral. Só no Rio esteve três vezes em 1886, 1893 e 1905. Louco por ela, nosso Pedro II, sabe-se, não perdeu uma só apresentação e ainda a presenteou com um valioso conjunto de gargantilha e bracelete em diamante, coisa que La Sarah mais adorava depois de animais exóticos, aplausos, sucesso e sexo. Um dos orgulhos do couturier Paul Poiret, ainda desconhecido e trabalhando na Maison Doucet, era alardear que havia sido ele quem havia cortado o figurino masculino que a divina Sarah usou em cena em “L’Aiglon”, peça de Rostand sobre a malfadada sorte do filho mais velho de Napoleão. Até nisso, ela foi pioneira, ao se travestir com roupas de homem em cena em mais de trinta papéis masculinos, entre eles, Hamlet, para horror da burguesia reinante.
Sarah Bernhardt não inventou nenhum modismo ou modinha, muito mais que isso ela criou o comportamento da mulher do século 20. Antecipou a mulher moderna, livre, independente, poderosa, sensual e sexual, despida das culpas impostas pela sufocante sociedade patriarcal, ao associar sucesso, riqueza, talento ao culto da beleza.
Sarah Bernhardt: Et la femme créa la star
Duração 14 de abril a 27 de agosto de 2023
Petit Palais, Paris
petitpalais.paris.fr