07 Champagne: as uvas da região e as mudanças climáticas

Champagne: as uvas da região e as mudanças climáticas

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Como as grandes produtoras dos vinhos da região francesa de Champagne planejam proteger as uvas das mudanças climáticas?

A região de Champagne, na França, onde são produzidos os celebrados champanhes, incita uma das questões mais atuais sobre o futuro da bebida: que impactos as mudanças climáticas poderão ter sobre o aroma, o gosto e o visual dos celebrados vinhos espumantes? Como a região está sendo impactada por essas mudanças?

 

A localização geográfica dessa porção de terra proporciona um clima peculiar, em que a uva amadurece lentamente, mantendo seus níveis de acidez enquanto aumenta o teor de açúcar até a colheita. Sempre de forma vagarosa – quase um paradoxo para sua expressão inquieta. A mistura de vinhos de safras diferentes e a refermentação desse vinho na garrafa (o tal método champenoise de produzir espumantes) é um maneirismo que caracteriza o estilo, e também é uma técnica que dá mais ferramentas para o vinhateiro em anos desafiadores. A safra de 2023, por exemplo, foi carregada de particularidades climáticas: sem geadas na primavera, mas com chuvas intensas, doenças e ondas de calor. Marie-Christine Osselin, responsável pela Qualidade e Comunicação técnica da maison Moët & Chandon, explica como a empresa está lidando com o cenário.

 

Como você analisa as últimas safras na região em seu apelo estético e em termos de estilo, frente à realidade de mudanças climáticas rápidas e significativas?

É claro que as alterações climáticas tiveram um impacto na qualidade dos nossos champanhes. Com o aquecimento global e as médias mais altas de temperatura, fica mais fácil atingir os níveis de maturidade das uvas. Como resultado, tendemos a colher as frutas mais cedo para preservar os níveis de acidez das uvas, sendo o frescor algo fundamental como estilo em Champagne. Porém, se as coisas continuarem a evoluir como tem acontecido nos últimos 30 anos, qualquer discussão sobre o estilo do champanhe se tornará completamente inútil. É o impacto em nossas vidas que será mais importante.

 

Qual é o papel da Möet & Chandon na preservação e regeneração de recursos naturais?

O grande desafio é preservar o nosso patrimônio natural e, ao mesmo tempo, produzir champanhes excepcionais. Com a distinção de ser o maior proprietário de terras da região de Champagne vem a responsabilidade de preparar um novo caminho e inspirar os nossos parceiros vitícolas, as autoridades locais e os principais intervenientes agrícolas. Há duas décadas a M&C tem tomado iniciativas em prol de uma viticultura mais sustentável, implementando certificações e programas de descarbonização. Nossa meta é reduzir a pegada de carbono em 50% até 2030, em comparação com 2018. Em 2021, lançamos um programa de agroecologia para acelerar a transição ecológica em favor de uma maior biodiversidade em Champagne, com base em dois pilares principais: criar corredores ecológicos, para conectar os ecossistemas existentes e estabelecer um ambiente natural; e proteger os ciclos de vida da fauna e flora local. Além disso, estamos acelerando a agricultura regenerativa e preservando, em um conservatório, a diversidade das nossas castas de uvas para vinho. Por fim, mantemos uma equipe de especialistas dedicada a trabalhar com tecnologias recentes para lidar com os desafios do clima.

 

A tecnologia é uma grande aliada da produção moderna de vinhos. Qual é a atual relação entre tecnologia e meio ambiente?

Nossa vinificação é um processo que combina um antigo savoir-faire com tecnologia de ponta para uma elaboração delicada e sutil das uvas. A nossa força está na dimensão e na diversidade das nossas vinhas, e também em poder contar com os centros de prensagem mais importantes da região, com equipamentos técnicos avançados. Acreditamos em uma enologia personalizada, adaptável e com intervenção mínima. Não forçamos a natureza; nós a guiamos. Fazemos champanhe sob medida, mas sem receita: há um elemento necessário de alma e sensibilidade.

  • Uma joaninha pousa sobre o cacho de uvas do tipo Pinot Noir dos vinhedos de Montagne de Reims, na região de Champagne, nordeste da França.

    Uma joaninha pousa sobre o cacho de uvas do tipo Pinot Noir dos vinhedos de Montagne de Reims, na região de Champagne, nordeste da França. Uma joaninha pousa sobre o cacho de uvas do tipo Pinot Noir dos vinhedos de Montagne de Reims, na região de Champagne, nordeste da França.

Foto: Cortesia de Moët & Chandon